HISTÓRICO

Uma pauta cada vez mais emergente: combater a violência que destrói a vida da juventude negra em territórios populares. Estimulados por essa inquietação, dois atores sociais, a CIPÓ – Comunicação Interativa e a Terre des Hommes Schweiz, se encontraram em 2014 e iniciaram um diálogo buscando formar uma parceria para desenvolver ações de prevenção e combate ao genocídio de jovens negros/as no Subúrbio Ferroviário de Salvador.

Foram reuniões, visitas, elaboração de propostas até que, em 2015, foi desenvolvido o Projeto Juventude Negra e Participação Política (JNPP). Como proposta piloto, em seu primeiro ano o JNPP reuniu 10 jovens egressos/as de diversas ações formativas realizadas pela CIPÓ. Esses/as garotos/as passaram por formações com jovens e lideranças negras e por experiências com as mais diversas estruturas governamentais e da sociedade civil, resultando na produção do documentário Não Somos + UM.

O sucesso da primeira turma resultou na renovação da parceria com uma proposta de mais três anos (2016-2018). Nesse período, foram mobilizados/as e qualificados/as outros/as 36 jovens multiplicadores/as. Além disso, a formação passou a contar com a monitoria de garotos/as que vivenciaram a experiência do JNPP no ano anterior. Com a metodologia testada, as estratégias e resultados se multiplicaram e foram traduzidos em produtos de comunicação; ações de incidência política realizadas pelos/as participantes do Projeto ou em articulação com outros coletivos; estabelecimento de dezenas de parcerias e mobilização de centenas de jovens do Subúrbio Ferroviário e de diferentes periferias de Salvador.

Outro importante resultado do JNPP é a inserção das pautas da juventude negra no Planejamento Estratégico e nas demais ações da CIPÓ, bem como sua parceria com articulações, redes e coletivos do Movimento Negro Brasileiro. Em 2019, o JNPP reinicia um período de mais três anos de parceria entre a CIPÓ e a Terre des Hommes Schweiz.

Marcos do Projeto Juventude Negra e Participação Política:

2015 – Produção e lançamento do documentário “Não Somos + UM”, peça audiovisual que se tornou referência pedagógica e de denúncia da morte violenta de jovens negros/as em Salvador e outras cidades. A obra foi também utilizada para realização de ações de educação de pares em escolas e outros espaços públicos ou privados.

2016 – Realização da campanha e exposição “Anúncio Suburbano”, que revelaram lideranças juvenis e comunitárias dedicadas ao combate e à prevenção das mortes de jovens negros/as. A intenção foi promover um diálogo entre a denúncia (representada pelo documentário “Não Somos + Um”) e o anúncio, como forma de não restringir o discurso dos/as jovens a mensagens negativas.

2016 – Audiência Pública de Iniciativa Popular “Direitos Humanos, Humanos Direitos – Juventude Negra na Luta por Justiça”, realizada no Espaço Cultural Alagados, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. O evento contou com a participação de jovens e representantes de coletivos juvenis, organizações comunitárias, redes e movimentos sociais, além de membros dos poderes legislativos Municipal e Estadual e do Poder Executivo Estadual, através da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e da Corregedoria da Polícia Militar.

2017 – Primeira “Caminhada Incomode”, realizada no Subúrbio Ferroviário de Salvador. O evento contou com cerca de 500 pessoas, representando diversos grupos, organizações e movimentos sociais, a exemplo do Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB). A Marcha levou para as ruas denúncias de diversos assassinatos de jovens negros/as, além de pautas de protesto contra a redução da maioridade penal e por mais políticas de inclusão social e de reparação. A partir desta mobilização, surgiu a ideia de criar o Coletivo Incomode, formado por grupos culturais juvenis, movimentos sociais e lideranças comunitárias atuantes na luta contra o racismo e genocídio da população negra.

2017 – “Audiência Pública Incomode”, realizada na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, em Salvador, por meio de uma articulação com a presidência da Comissão de Reparação da Casa. Com a presença de mais de 200 pessoas, entre jovens e lideranças de movimentos sociais, a Audiência obteve grande repercussão nos meios de comunicação e na cidade, resultando em um documento com demandas da juventude negra direcionado ao Governo do Estado.

2017 – Curso de Educação à Distância (EaD) “Juventude Negra e Participação Política”, que traz módulos conceituais sobre racismo, genocídio da juventude negra e política sobre drogas. Ofertado no Portal de Ensino à Distância da CIPÓ, na plataforma Moodle, o curso é baseado na metodologia do Projeto Juventude Negra e Participação Política (JNPP) e traz atividades práticas e videoaulas ministradas por militantes e estudiosos da luta antirracista no Brasil.

2018 – Participação dos/as jovens no Fórum Social Mundial (FSM), como marco inicial do processo formativo da nova turma do Projeto JNPP. A presença e atuação dos/as garotos/as no Fórum, realizado em Salvador no mês de março, foi de fundamental importância para a formação política do grupo, reverberando nas ações posteriores realizadas ao longo do ano.

2018 – Segunda “Marcha Incomode”, que reuniu nas ruas do Subúrbio Ferroviário de Salvador mais de 500 pessoas em torno da luta contra o genocídio da juventude negra. Representações de diferentes bairros da cidade, como Cajazeiras, Nordeste de Amaralina e Itapuã, marcaram presença no evento, que foi planejado e realizado pelo Coletivo Incomode, com o apoio logístico da CIPÓ. Como resultado da prospecção de parcerias e financiamentos realizada pelo Coletivo, obteve-se um apoio financeiro da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) para a realização do ato.

2018 – Produção e lançamento da websérie “Vidas em Branco”, que revela o ponto de vista de pessoas que perderam jovens negros/as vítimas da violência policial. Com cinco capítulos, a produção audiovisual traz depoimentos de jovens, lideranças, mães e pais, constituindo-se como uma releitura do documentário “Não Somos + UM”.

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